terça-feira, 24 de novembro de 2020

Dia Nacional da Cultura Científica em Portugal


O Dia Nacional da Cultura Científica, instituído em 1996, é assinalado a 24 de Novembro em homenagem a Rómulo de Carvalho, (data do seu nascimento 24 de novembro de 1906) procurando realçar a importância do conhecimento científico para o crescimento e desenvolvimento de Portugal e dos portugueses.

Rómulo de Carvalho, investigador, professor, poeta, autor de manuais escolares e livros de investigação 

científica e de poesia, deixou uma marca relevante para afirmar a ciência como o meio para modificar, ampliar e substituir o conhecimento. Como poeta foi e é conhecido pelo pseudónimo António Gedeão.

Celebrar a ciência e despertar o interesse por esta são os objetivos principais deste dia.

https://www.esenf.pt/pt/noticias/dia-nacional-da-cultura-cientifica/

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Nas palavras de Rúben...




O Diarista sente que o diário o apoia na fadiga quotidiana ao conseguir, através dele, criar um espaço onde os seus pensamentos se espraiam e ganham a dimensão do momento que a realidade dificilmente consegue manter

Maria Teresa Fragata

De facto, um diário é um instrumento pessoal, íntimo, que entra em quase total conexão emocional com quem o redige. Tal como diz Maria Teresa Fragata, é através do diário que se cria um espaço em que se pode fugir à realidade.

Na verdade, eu já tive um diário. Ainda o tenho, mas já não escrevo, pois pertence a uma altura difícil do meu passado. Por essa mesma razão, posso dizer que concordo com a perspetiva do autor. Isto, porque, da mesma forma que Fernando Pessoa, em alguns dos seus textos, eu utilizava o meu diário para escapar à realidade, para me refugiar da dor dos momentos que vivia naquela altura, e ser capaz de exprimir tudo o que sentia.

Efetivamente, considero que um diário não tem uma estrutura definida. É apenas uma espécie de coletânea de poemas, presos às circunstâncias do espaço e do tempo em que a escrita se desenrola. Digo poemas, porque o que lá se redige é fruto da intelectualização do que sentimos. Não há arte sem imaginação, sem que o real seja imaginado de modo a exprimir-se artisticamente e a concretizar-se em arte. Por isso o digo: um diário é arte. É uma afirmação de alguém como pessoa. Dessa forma, as emoções expressas no diário, que foram intelectualizadas, são muito mais autênticas do que o que realmente se sentiu. Eu mesmo trabalhava para isso, quando escrevia no diário. Trabalhava a verdade de forma artística, para que, quando fosse recordar o que se passou, sentisse tudo vividamente.

Concluindo, é através do diário que se encontra a força para enfrentar o quotidiano, que se escapa do real. Só um diarista sabe o que é sentir isso. É num diário que se escreve um dia-a-dia que fica como memória.

Um passado que nos liberta no presente e nos prepara para o futuro. 

Rúben Lindo, 12ºVC

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Um Poema por Semana

 Para além da leitura, pode ouvir... basta clicar no ícone que se encontra na coluna lateral.


 As Palavras Interditas

Os Navios existem, e existe o teu rosto

encostado ao rosto dos navios.

Sem nenhum destino flutuam nas cidades,

Partem no vento, regressam nos rios.

 

Na areia branca, onde o tempo começa,

uma criança passa de costas para o mar.

Anoitece. Não há dúvida, anoitece.

É preciso partir, é preciso ficar.

 

Os hospitais cobrem-se de cinza.

Ondas de sombra quebram-se nas esquinas.

Amo-te… E entram pela janela

as primeiras luzes das colinas.

 

As palavras que te envio são interditas

até, meu amor, pelo halo das searas;

se alguma regressasse, nem já reconhecia

o teu nome nas suas curvas claras.

 

Dói-me esta água, este ar que se respira,

dói-me esta solidão de pedra escura,

estas mãos nocturnas onde aperto

os meus dias quebrados na cintura.

 

E a noite cresce apaixonadamente.

Nas suas margens nuas, desoladas,

cada homem tem apenas para dar

um horizonte de cidades bombardeadas.


Eugénio de Andrade in As Palavras Interditas


quinta-feira, 5 de novembro de 2020

A RTP2 dá voz à poesia -

 "Um Poema por Semana" 

Sophia de Mello Breyner Andresen, Cesário Verde, Ruy Belo, Fernando Pessoa, Miguel Torga, Sá de Miranda, António Nobre, Alexandre O´Neill, Luís Vaz de Camões, Jorge de Sena, José Régio, David Mourão Ferreira, António Gedeão, Eugénio de Andrade, Mário Cesariny. O que têm em comum estes poetas? Para lá do facto de estarem mortos? Todos marcaram indelevelmente a história da literatura em língua portuguesa. Mais do que isso: marcaram o nosso imaginário e condicionaram a nossa identidade. Ainda que, muitas vezes, disso não tenhamos consciência.

São de Sophia, Cesário, Ruy Belo, Pessoa, Torga, Sá de Miranda, Nobre, O´Neill, Camões, Sena, Régio, David, Gedeão, Eugénio e Cesariny os 15 poemas que veremos ditos ao longo de 75 dias por 75 pessoas diferentes. Um Poema Por Semana é isso mesmo: o mesmo poema de Alexandre O´Neill dito de segunda a sexta-feira por cinco pessoas. Uma à segunda, outra à terça, outra à quarta, outra à quinta e outra à sexta. O mesmo poema.

Os "dizedores" são homens e mulheres, novos e velhos, portugueses e brasileiros e angolanos e italianos falantes de português. Gente que tem em comum gostar muito de poesia. Na esmagadora maioria dos casos, não atores.

A equipa de Um Poema Por Semana é também composta por pessoas de várias gerações e diversas origens geográficas e profissionais. A escolha dos poemas é de José Carlos de Vasconcelos, jornalista com longa história na ação cultural em Portugal e diretor do clássico Jornal de Letras; a direção artística, a realização e a cenografia são de Paulo Braga, um criativo sénior do mundo da Publicidade; o casting foi feito por João Gesta, o apaixonado inventor de Quintas de Leitura no Teatro do Campo Alegre, no Porto; e por Gonçalo Riscado, responsável pelo Music Box e pelo novíssimo festival de Slam Poetry, em Lisboa; a produção é de Frederico Wiborg. Um Poema Por Semana é uma ideia de Paula Moura Pinheiro que reuniu esta equipa e tentou produzir a série dentro da RTP. Um Poema Por Semana foi filmado nos estúdios da Panavideo.

https://www.rtp.pt/programa/tv/p27371

 “E por vezes”

E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos  E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites   não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos
David Mourão-Ferreira

Podes ouvir os poemas lidos/ declamados - basta clicares na imagem "Um Poema por Semana" que se encontra na barra lateral.